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PRIVAÇÕES MERITÓRIAS
A dor, todos sabemos, é uma terapia espiritual para as almas, tanto assim
que ela sempre existiu na face da Terra, bem como em alguns planos do
Espírito desencarnado. Ela constitui o freio para regular os impulsos
inferiores, donde se vê tanto sofrimento no mundo, quantidade imensurável
de hospitais e remédios.
A dor é o aguilhão capaz de levar o Espírito a sérias meditações,
resultando na ponderação das investidas ao mal. Diante das calamidades em
que os homens se encontram, alguns entendem que para eliminar o passado
culposo, ou para despertar suas faculdades espirituais mais depressa,
encontrarão mérito em procurar sofrimentos e entram nas privações
voluntárias pela própria vontade, como, por exemplo, abstendo-se de
alimentos por muito tempo, crucificando-se em madeiros esculpidos por eles
mesmos, "enterrando-se" vivos, se prendendo em locais onde ninguém os
possa ver, privando-se do convívio dos seus semelhantes e quando aparece
uma enfermidade, não procuram tratamento. Compreendendo que são sempre
devedores de outras vidas, intentam resgatar a dívida por eles próprios,
para mais depressa se libertarem.
Como se enganam essas pessoas! Não há mérito nessas extravagâncias de
impor a si mesmos sofrimentos. Ao invés desses castigos, deveriam
trabalhar para confortar os enfermos, animar os caídos e dar pão a quem
tem fome; é muito meritório esse gesto de caridade.
Se queremos sentir o mérito das nossas ações, busquemos crucificar nossas
paixões, esquecer as ofensas recebidas e amar a todas as criaturas de
Deus, amando a Deus em todas as coisas. Eis aí o mérito dos nossos
esforços. A época das privações exteriores ficou no passado; no presente,
dado ao despertamento do homem para mais além, convém notar as mudanças
dos comportamentos para melhor. Podemos observar que a própria religião
católica já opera certas mudanças no que diz respeito também às prisões
que algumas mulheres se impõem para a purificação dos seus sentimentos. Já
se fecham alguns conventos, transformando-os em escolas; em vez de somente
adoração, passa-se à ação, devido ao preparo dessas almas em questão.
O mérito hoje está na renovação interior da alma, e foi a Doutrina dos
Espíritos a mais avançada filosofia neste sentido. A variedade de livros
publicados, as mensagens dos benfeitores espirituais, mostrando às
criaturas da Terra como avançar, ensina qual é o maior mérito para se
libertar do peso cármico, ou o melhor trabalho para o seu despertar.
Aqueles que combatem o Espiritismo Cristão sem examinar seus conceitos,
não entenderam sua mensagem aos homens, porque seu objetivo é a iluminação
da consciência humana. O espírita sincero não perde tempo em aceitar
glória dos homens, mas trabalha em favor dele e de todos, como um dever de
coração em Jesus.
Observem em João, no capítulo cinco, versículo quarenta e um, essa
anotação:
Eu não aceito glória que vem dos homens.
Jesus nos mostra que a verdadeira glória vem de Deus, que nos faz
conscientes da verdade. Nós devemos nos privar dos gozos inúteis, dos
excessos do descanso em demasia, da gulodice e das extravagâncias. Vamos
procurar pautar nossa vida dentro da simplicidade, onde o amor seja a
nossa força, que gera esperança e paz.
O homem do passado somente tinha olhos para ver as coisas externas. O
homem de hoje, que se encontra ligado às coisas que já se foram, continua
sofrendo das ilusões externas, todavia, o novo homem, que nasceu em Jesus,
passa a trabalhar e procurar os valores eternos dentro dele mesmo, lutando
para essa grande conquista, que faz libertar a consciência, onde a
tranqüilidade passa a ser um verdadeiro céu.
O mérito não é ajuntar coisas perecíveis, é despertar os dons que Deus
depositou na intimidade de cada ser.
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