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FELICIDADE
Os extremos, mesmo aparentemente, se confundem. A vida de um homem
primitivo tem alguns traços da de um santo: um aceita tudo o que a
natureza modela em seu caminho, e o outro aceita tudo o que possa
acontecer, sem desespero, sem reclamação, tirando de todos os
acontecimentos lições valiosas. Já na situação intermediária, como no caso
em que se encontra a humanidade atual, o estado íntimo é outro; a alma
dotada de razão mais desenvolvida, onde o egoísmo e o orgulho participam
de toda a sua vida, oferece mais campo à revolta, às blasfêmias, às
inquietações, buscando aqui e ali, por todos os meios que dispõe, a
própria satisfação pessoal não sendo capaz de encontrar a felicidade, no
exterior, ele cai em estafa e a dor o coloca na posição de encontrar
notícias da felicidade dentro de si mesmo.
O homem, no estado de natureza, parece que vive feliz, no entanto, a
felicidade ainda não é essa; a felicidade verdadeira é aquela onde a
consciência se encontra em sintonia com a harmonia divina, a consciência
imperturbável, que de tudo tira lições, sem exigir nada dos outros, nem se
alterar com nada. Ela nunca se agita com os acontecimentos, por ser
consciente da necessidade deles para a massa humana com o seu demorado
despertamento espiritual.
A maioria das criaturas não entende felicidade, a não ser a dos brutos,
gozando as coisas da Terra, com viagens longas em vários países, com
mansões requintadas, com alimentos exóticos e anti-naturais, com roupas
luxuosas e assim por diante. Procuram desse modo a felicidade na Terra, e
como esses prazeres são transitórios, caem logo na decadência moral, por
buscarem igualmente satisfazer as suas paixões inferiores, deturpando os
valores das emoções da alma. Esquecem-se de que a felicidade está mais
perto dos que pensam, por estar dentro delas mesmas.
O portador desta verdade foi Jesus Cristo, nos mostrando pela própria vida
onde se encontra o tesouro maior que interessa a todos os que buscam a
Deus.
Lucas nos informa, no capítulo quinze, versículo quatro, de maneira sutil,
onde se encontra a ovelha divina que reflete todo o rebanho. Ele registrou
as seguintes palavras do Mestre:
Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma
delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se
perdeu até encontrá-la?
As noventa e nove são os reflexos daquela que se perdeu no deserto do
coração, que se encontra dormindo na intimidade da vida da alma. Então, o
homem parte para encontrá-la, e quando a acha a sua alegria é muito
grande, porque encontrando-a, todas as outras estão salvas na unidade de
Deus.
O Evangelho está escrito em todas as dimensões que se possa alcançar, como
fonte de vida, para a vida de todas as criaturas. Quando se diz que Jesus
é o Mestre dos mestres, é para compreendermos, sentindo a segurança da Sua
presença em nós, que desejamos viver os Seus preceitos. Todas as Suas
palavras são de vida, e de vida eterna.
Busquemos a ovelha perdida no nosso mundo interno; ela representa a nossa
felicidade e o exemplo edificante para que os outros que ainda não
acordaram para tal exercício divino façam o mesmo, nas linhas do nosso
proceder. A felicidade verdadeira é aquela que é consciente e sabe porque
ama a tudo e a todos.
O bruto é feliz em sua vida rude; muitos homens são felizes comendo e
bebendo, mas a felicidade real, aquela cujo caminho o Cristo nos ensinou,
é outra, que nos alimenta em Espírito com o pão que veio do céu em forma
de Amor.
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