FILOSOFIA ESPÍRITA - VOLUME IX

 

Questão 454 comentada

CAPÍTULO 46

0454/LE

PERSPICÁCIA

 

Os dons espirituais poder-se-iam desenvolver pela força da vontade, porque a vontade não deixa de ser faculdade do Espírito em exercício para crescer e melhorar. Ela pode até nascer da vaidade, mas, como esta tem pouca duração, a vontade vai, com o tempo, se aperfeiçoando e tomando rumos diferentes, de modo a encontrar a realidade do Espírito.

A dupla visão pode nascer da disposição do Espírito, porém, essa faculdade obedece a uma escala de qualidade. No primeiro degrau da sua escala, ela se apresenta prometendo uma visão clara, mas ainda vive na obscuridade, e pode viver muito tempo envolvida no pressentimento. Pode a criatura pressentir a presença de certo Espírito ao lado de certas pessoas e ser verdade que ali esteja. É por esse pressentimento que se abrem os canais, se prosseguir exercitando essa faculdade. Assim são todas as faculdades. Por exercício, em todos os campos de ação, elas são forças que crescem; todavia, há muitas pessoas que nascem com a mediunidade aflorada.

Com relação à segunda vista, este dom é espontâneo. A visão espiritual não encontra dificuldades e está mais apta à revelação das verdades do Espírito, ao passo que nos pressentimentos, os erros são generalizados.

Cabe a nós dizer a todos os candidatos ao desenvolvimento das faculdades espirituais que não devem forçar muito o despertar dos dons. A violência na aquisição de valores pode ser motivo de certos desastres espirituais e morais das criaturas.

Existem muitas pessoas que têm vários dons desenvolvidos, e outros não trazem essas faculdades em plena ação. Cada uma vem com um sinal, com uma modalidade de trabalho, mas todas são úteis quando se quer ajudar. Tanto o trabalhador rural, quanto o chefe de uma nação, são vistos por Deus com a mesma paternidade, com o mesmo amor. Não queira um fazer o trabalho do outro, para não errar o caminho dos seus compromissos espirituais. A vida, ou as vidas sucessivas, mostram-nos que há tempo para tudo, e em cada uma delas somos investidos de certas obrigações, de deveres que nos trazem a paz ao coração.

Se existem os sábios e pseudo-sábios, há, igualmente, os médiuns e os pseudo-médiuns. Entrementes, eles todos têm valores a serem aproveitados. Em tudo se pode notar o positivo e o negativo, para se completarem como força de Deus no esclarecimento dos homens. Dois fios garantem a luz na lâmpada elétrica: um positivo e um negativo. Precisamos, pois, conhecer a nossa posição ante os nossos compromissos. Não queiramos trocar as nossas atividades com os trabalhos alheios. Se o grande músico invejar o engenheiro e passar a construir casas, pode entrar em desequilíbrio emocional, por não ser esse o seu caminho a percorrer na aquisição da sua paz. Se o médico passar a varrer rua, atrofiará suas qualidades de atendimento aos doentes. Não queiramos mudar as obrigações, que Deus nos confiou. Cumpramos a nossa missão que tudo se harmonizará em nossa vida.

Certamente que a inteligência do homem busca coisas extraordinárias no plano em que habita. Ela pode fazer desabrochar alguns dons espirituais, no entanto, esses dons não podem ser manipulados por ela. Cada um se encontra em um extremo, com feições diferentes no seu exercício: um divino e outro humano. É bom que se pense nisso.

Se se tem a dupla vista, nascida sob a influência da inteligência, que a use sem a intervenção desta, porque a razão, nesses casos, pode pôr a perder a própria faculdade, por não saber defini-la com precisão.

 

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