Diversidade das raças
humanas
52. Donde provêm as
diferenças físicas e morais que distinguem as raças humanas na Terra?
“Do clima, da vida e dos
costumes. Dá-se aí o que se dá com dois filhos de uma mesma mãe que, educados
longe um do outro e de modos diferentes, em nada se assemelharão, quanto ao
moral.”
53. O homem surgiu em
muitos pontos do globo?
“Sim e em épocas várias, o
que também constitui uma das causas da diversidade das raças. Depois,
dispersando-se os homens por climas diversos e aliando-se os de uma aos de outras raças, novos tipos se
formaram.”
a) - Estas diferenças
constituem espécies distintas?
“Certamente que não; todos
são da mesma família. Porventura as múltiplas variedades de um mesmo fruto
são motivo para que elas deixem de formar uma só espécie?”
54. Pelo fato de não
proceder de um só indivíduo a espécie humana, devem os homens deixar de
considerar-se irmãos?
“Todos os homens são irmãos
em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo fim. Estais
sempre inclinados a tomar as palavras na sua significação literal.”
Pluralidade dos mundos
55. São habitados todos
os globos que se movem no espaço?
“Sim e o homem terreno está
longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição.
Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a
este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam
que só para eles criou Deus o Universo.”
Deus povoou de seres vivos
os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da
Providência. Acreditar que só os haja no planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de
Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado uma destinação
mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no
volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do
privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos
semelhantes.
56. É a mesma a
constituição física dos diferentes globos?
“Não; de modo algum se
assemelham.”
57. Não sendo uma só para
todos a constituição física dos mundos, seguir-se-á tenham organizações
diferentes os seres que os habitam?
“Sem dúvida, do mesmo modo
que no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.”
58. Os mundos mais
afastados do Sol estarão privados de luz e calor, por motivo de esse astro se lhes
mostrar apenas com a aparência de uma estrela?
“Pensais então que não há
outras fontes de luz e calor além do Sol e em nenhuma conta tendes a eletricidade
que, em certos mundos, desempenha um papel que desconheceis e bem mais importante do que
o que lhe cabe desempenhar na
Terra? Demais, não dissemos que todos os seres são feitos de igual matéria que vós outros
e com órgãos de conformação idêntica à dos vossos.”
As condições de existência
dos seres que habitam os diferentes mundos hão de ser adequadas ao meio em que
lhes cumpre viver. Se jamais houvéramos visto peixes, não compreenderíamos pudesse
haver seres que vivessem dentro dágua. Assim acontece com relação aos outros mundos,
que sem dúvida contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas
noites polares iluminadas pela eletricidade das auroras boreais?
Que há de impossível em ser
a eletricidade, nalguns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles
uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode
suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e de luz
necessárias a seus habitantes.
Considerações e
concordâncias bíblicas concernentes à Criação
59. Os povos hão formado
idéias muito divergentes acerca da Criação, de acordo com as luzes que possuíam.
Apoiada na Ciência, a razão reconheceu a inverossimilhança de algumas dessas teorias. A
que os Espíritos apresentam confirma a opinião de há muito partilhada pelos homens mais
esclarecidos.
A objeção que se lhe pode
fazer é a de estar em contradição com o texto dos livros sagrados. Mas, um exame
sério mostrará que essa contradição é mais aparente do que real e que decorre da interpretação
dada ao que muitas vezes só tinha sentido alegórico.
A questão de ter sido Adão,
como primeiro homem, a origem exclusiva da Humanidade, não é a única a
cujo respeito as crenças religiosas tiveram que se modificar. O movimento da Terra pareceu,
em determinada época, tão em oposição às letras sagradas, que não houve gênero de
perseguições a que essa teoria não tivesse servido de pretexto, e, no entanto, a Terra gira,
mau grado aos anátemas, não podendo ninguém hoje contestá-lo, sem agravo à sua própria
razão.
Diz também a Bíblia que o
mundo foi criado em seis dias e põe a época da sua criação há quatro mil anos,
mais ou menos, antes da era
cristã. Anteriormente, a Terra não existia; foi tirada do nada: o texto é formal. Eis, porém, que a
ciência positiva, a inexorável ciência, prova o contrário. A história da formação do
globo terráqueo está escrita em caracteres irrecusáveis no mundo fóssil, achando-se provado
que os seis dias da criação indicam outros tantos períodos, cada um de, talvez, muitas
centenas de milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião insulada; é um
fato tão certo como o do movimento da Terra e que a Teologia não pode negar-se a admitir,
o que demonstra evidentemente o erro em que se está sujeito a cair tomando ao pé da letra
expressões de uma linguagem freqüentemente figurada. Deverse-á daí concluir que a Bíblia
é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao
interpretá-la. Escavando os arquivos da
Terra, a Ciência descobriu em que ordem os seres vivos lhe apareceram na
superfície, ordem que está de acordo com o que diz a Gênese,
havendo apenas a notar-se a
diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente por Deus em algumas horas, se
realizou, sempre pela Sua vontade, mas conformemente à lei das forças da Natureza, em
alguns milhões de anos. Ficou sendo Deus, por isso, menor e menos poderoso? Perdeu em
sublimidade a Sua obra, por não ter o prestígio da instantaneidade?
Indubitavelmente, não. Fora mister fazer-se da Divindade bem mesquinha idéia, para se não
reconhecer a sua onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para regerem os mundos. A
ciência, longe de apoucar a obra divina, no-la mostra sob aspecto mais grandioso e mais acorde
com as noções que temos do poder e da majestade de Deus, pela razão mesma de ela se
haver efetuado sem derrogação das leis da Natureza.
De acordo, neste ponto, com
Moisés, a Ciência coloca o homem em último lugar na ordem da criação dos seres
vivos. Moisés, porém, indica, como sendo o do dilúvio universal, o ano 1654 da
formação do mundo, ao passo que a Geologia nos aponta o grande cataclismo como anterior ao
aparecimento do homem, atendendo a que, até hoje, não se encontrou, nas camadas
primitivas, traço algum de sua presença, nem da dos animais de igual categoria, do ponto de
vista físico. Contudo, nada prova que isso seja impossível.
Muitas descobertas já
fizeram surgir dúvidas a tal respeito. Pode dar-se que, de um momento para outro, se
adquira a certeza material da anterioridade da raça humana e então se reconhecerá que, a esse
propósito, como a tantos outros, o texto
bíblico encerra uma figura. A questão está em saber se o cataclismo geológico é o mesmo a que
assistiu Noé. Ora, o tempo necessário à formação das camadas fósseis não permite
confundi-los e, desde que se achem vestígios da existência do homem antes da grande catástrofe,
provado ficará, ou que Adão não foi o primeiro homem, ou que a sua criação se perde na
noite dos tempos. Contra a evidência não há raciocínios possíveis; forçoso será aceitar-se esse
fato, como se aceitaram o do movimento da Terra e os seis períodos da Criação.
A existência do homem antes
do dilúvio geológico ainda é, com efeito, hipotética.
Eis aqui, porém, alguma
coisa que o é menos. Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra
4.000 anos antes do Cristo e que, 1650 anos mais tarde, toda a raça humana foi destruída,
com exceção de uma só família, resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, ou
seja: de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no
décimo oitavo século, encontraram esse país muito povoado e já bastante adiantado em
civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros países também estavam
florescentes, sem mesmo se ter em conta a cronologia de certos povos, que remonta a uma
época muito mais afastada. Teria sido preciso, nesse caso, que do vigésimo quarto ao décimo
oitavo século, isto é, que num espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um
único homem houvesse podido povoar todos os imensos países então conhecidos,
suposto que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto lapso de tempo, a espécie
humana houvesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais
alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas.
A diversidade das raças
corrobora, igualmente, esta opinião, O clima e os costumes produzem, é certo,
modificações no caráter físico; sabe-se, porém, até onde pode ir a influência dessas causas.
Entretanto, o exame fisiológico demonstra haver, entre certas raças, diferenças
constitucionais mais profundas do que as que o clima é capaz de determinar. O cruzamento das
raças dá origem aos tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres extremos, mas
não os cria; apenas produz variedades. Ora, para que tenha havido cruzamento de raças,
preciso era que houvesse raças distintas. Como, porém, se explicará a existência
delas, atribuindo-se-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão pouco afastada? Como se há de
admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé se tenham
transformado ao ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo? Tão pouco
admissível é semelhante metamorfose, quanto a hipótese de uma origem comum para o lobo e o
cordeiro, para o elefante e o pulgão, para o pássaro e o peixe. Ainda uma vez: nada
pode prevalecer contra a evidência dos fatos.
Tudo, ao invés, se explica,
admitindo-se: que a existência do homem é anterior à época em que vulgarmente se
pretende que ela começou; que diversas são as origens; que Adão, vivendo há seis mil
anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe
parcial, confundida com o cataclismo geológico; e atentando-se, finalmente, na forma
alegórica peculiar ao estilo oriental, forma que se nos depara nos livros sagrados de todos os
povos. Isto faz ver quanto é prudente não lançar levianamente a pecha de falsas a doutrinas
que podem, cedo ou tarde, como tantas outras, desmentir os que as combatem. As idéias
religiosas, longe de perderem alguma coisa, se engrandecem, caminhando de par com a
Ciência. Esse o meio único de não apresentarem lado vulnerável ao cepticismo.
CAPÍTULO IV
DO PRINCÍPIO VITAL
1. Seres orgânicos e
inorgânicos. - 2. A vida e a morte. - 3. Inteligência e instinto.
Seres orgânicos e
inorgânicos
Os seres orgânicos são os
que têm em si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida. Nascem, crescem,
reproduzem-se por si mesmos e morrem. São providos de órgãos especiais para a execução
dos diferentes atos da vida, órgãos esses apropriados às necessidades que a
conservação própria lhes impõe. Nessa classe estão compreendidos os homens, os animais e as
plantas. Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que
se formam apenas pela agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar, etc.
60. É a mesma a força que
une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e nos inorgânicos?
“Sim, a lei de atração é a
mesma para todos.”
61. Há diferença entre a
matéria dos corpos orgânicos e a dos inorgânicos?
“A matéria é sempre a mesma,
porém nos corpos orgânicos está animalizada.”
62. Qual a causa da
animalização da matéria?
“Sua união com o princípio
vital.”
63. O princípio vital
reside nalgum agente particular, ou é simplesmente uma propriedade da matéria
organizada? Numa palavra, é efeito, ou causa?
“Uma e outra coisa. A vida é um efeito devido à ação de um agente sobre a
matéria.
Esse agente, sem a matéria,
não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a
todos os seres que o absorvem e assimilam.”
64. Vimos que o Espírito
e a matéria são dois elementos constitutivos do Universo.
O princípio vital será um
terceiro?
“É, sem dúvida, um dos
elementos necessários à constituição do Universo, mas que também tem sua origem na
matéria universal modificada. É, para vós, um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio,
que, entretanto, não são elementos primitivos, pois que tudo isso deriva de um só princípio.”
a) - Parece resultar daí
que a vitalidade não tem seu princípio num agente primitivo distinto e sim numa
propriedade especial da matéria universal, devida a certas modificações.
“Isto é conseqüência do que
dissemos.”
65. O princípio vital
reside em alguns dos corpos que conhecemos?
“Ele tem por fonte o fluido
universal. É o que chamais fluido magnético, ou fluido elétrico animalizado. É o
intermediário, o elo existente entre o Espírito e a matéria.”
66. O princípio vital é
um só para todos os seres orgânicos?
“Sim, modificado segundo as
espécies. É ele que lhes dá movimento e atividade e os distingue da matéria inerte,
porquanto o movimento da matéria não é a vida. Esse movimento ela o recebe, não
o dá.”
67. A vitalidade é
atributo permanente do agente vital, ou se desenvolve tão-só pelo funcionamento dos órgãos?
“Ela não se desenvolve senão
com o corpo. Não dissemos que esse agente sem a matéria não é a vida? A
união dos dois é necessária para produzir a vida.”
a) - Poder-se-á dizer que
a vitalidade se acha em estado latente, quando o agente vital não está unido ao
corpo?
“Sim, é isso.”
O conjunto dos órgãos
constitui uma espécie de mecanismo que recebe impulsão da atividade íntima ou
princípio vital que entre eles existe. Ao mesmo tempo que o agente vital dá impulsão aos
órgãos, a ação destes entretém e desenvolve a atividade daquele agente, quase como sucede
com o atrito, que desenvolve o calor.
A vida e a morte
68. Qual a causa da morte
dos seres orgânicos?
“Esgotamento dos órgãos.”
a) - Poder-se-ia comparar
a morte à cessação do movimento de uma máquina desorganizada?
“Sim; se a máquina está mal
montada, cessa o movimento; se o corpo está enfermo, a vida se extingue.”
69. Por que é que uma
lesão do coração mais depressa causa a morte do que as de outros órgãos?
“O coração é máquina da
vida, não é, porém o único órgão cuja lesão ocasiona a morte. Ele não passa de uma
das peças essenciais.”
70. Que é feito da
matéria e do princípio vital dos seres orgânicos, quando estes morrem?
“A matéria inerte se
decompõe e vai formar novos organismos. O princípio vital volta à massa donde saiu.”
Morto o ser orgânico, os
elementos que o compõe sofrem novas combinações, de que resultam novos seres, os
quais haurem na fonte
universal o princípio da vida e da atividade, o absorvem e assimilam, para novamente restituírem a
essa fonte, quando deixarem de existir.
Os órgãos se impregnam, por
assim dizer, desse fluido vital e esse fluido dá a todas as partes do organismo uma
atividade que as põe em comunicação entre si, nos casos de certas lesões, e normaliza
as funções momentaneamente perturbadas. Mas, quando os elementos essenciais ao
funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o
fluido vital se torna impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o ser morre.
Mais ou menos
necessariamente, os órgãos reagem uns sobre os outros, resultando essa ação recíproca da
harmonia do conjunto por eles formado. Destruída que seja, por uma causa qualquer, esta
harmonia, o funcionamento deles cessa, como o movimento da máquina cujas peças
principais se desarranjem. É o que se verifica, por exemplo, com um relógio gasto pelo uso, ou
que sofreu um choque por acidente, no qual a força motriz fica impotente para pô-lo de novo
a andar.
Num aparelho elétrico temos
imagem mais exata da vida e da morte. Esse aparelho, como todos os corpos da
Natureza, contém eletricidade em estado latente. Os fenômenos elétricos, porém, não se
produzem senão quando o fluido é posto em atividade por uma causa especial. Poder-se-ia
então dizer que o aparelho está vivo. Vindo a cessar a causa da atividade, cessa o fenômeno:
o aparelho volta ao estado de inércia. Os corpos orgânicos são, assim, uma espécie de pilhas
ou aparelhos elétricos, nos quais a atividade do fluido determina o fenômeno da
vida. A cessação dessa atividade causa a morte.
A quantidade de fluido vital
não é absoluta em todos os seres orgânicos. Varia segundo as espécies e não é
constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns há, que se
acham, por assim dizer saturados desse fluido, enquanto os outros o possuem em
quantidade apenas suficiente. Daí, para alguns, vida mais ativa, mais tenaz e, de certo modo,
superabundante.
A quantidade de fluido vital
se esgota. Pode tornar-se insuficiente para a conservação da vida, se não
for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite
de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o
tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a extinguir-se.
Inteligência e instinto
71. A inteligência é
atributo do princípio vital?
“Não, pois que as plantas
vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A inteligência e a matéria são
independentes, porquanto um corpo pode viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meio dos
órgãos materiais pode manifestar-se. Necessário é que o Espírito se una à matéria
animalizada para intelectualizá-la.”
A inteligência é uma
faculdade especial, peculiar a algumas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com
o pensamento, a vontade de atuar, a consciência de que existem e de que constituem
uma individualidade cada um, assim como os meios de estabelecerem relações com o
mundo exterior e de proverem às suas necessidades.
Podem distinguir-se assim:
1°, os seres inanimados, constituídos só de matéria, sem vitalidade nem inteligência:
são os corpos brutos; 2°, os seres animados que não pensam, formados de matéria e
dotados de vitalidade, porém, destituídos de inteligência; 3°, os seres animados pensantes, formados
de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que
lhes outorga a faculdade de pensar.
72. Qual a fonte da
inteligência?
“Já o dissemos; a
inteligência universal.”
a) - Poder-se-ia dizer
que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila,
como tira e assimila o princípio da vida material?
“Isto não passa de simples
comparação, todavia inexata, porque a inteligência é uma faculdade própria de cada
ser e constitui a sua individualidade moral. Demais, como sabeis, há coisas que ao homem não é
dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número.”
73. O instinto independe
da inteligência?
“Precisamente, não, por isso
que o instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio.
Por ele é que todos os seres provêem às suas necessidades.”
74. Pode estabelecer-se
uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um
acaba e começa a outra?
“Não, porque muitas vezes se
confundem. Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do
instinto dos que são da inteligência.”
75. É acertado dizer-se
que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais?
“Não; o instinto existe
sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase
sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia.”
a) - Por que nem sempre é
guia infalível a razão?
“Seria infalível, se não
fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não
raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livrearbítrio.”
O instinto é uma
inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas
manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as da inteligência resultam de uma
combinação e de um ato deliberado.
O instinto varia em suas
manifestações, conforme às espécies e às suas necessidades. Nos seres que
têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é,
à vontade e à liberdade.
PARTE SEGUNDA
Do mundo espírita ou mundo dos espíritos
CAPÍTULO I
DOS ESPÍRITOS
1. Origem e natureza dos
Espíritos. - 2. Mundo normal primitivo. - 3. Forma e ubiqüidade dos Espíritos. - 4.
Perispírito. - 5. Diferentes ordens de Espíritos. - 6. Escala espírita. -
7. Progresso dos Espíritos.
- 8. Anjos e demônios.
Origem e natureza dos
Espíritos
76. Que definição se pode
dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os
Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo
material.”
NOTA - A palavra Espírito
é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não
mais o elemento inteligente do Universo.
77. Os Espíritos são
seres distintos da Divindade, ou serão simples emanações ou porções desta e, por
isto, denominados filhos de Deus?
“Meu Deus! São obra de Deus,
exatamente qual a máquina o é do homem que a fabrica. A máquina é obra do
homem, não é o próprio homem. Sabes que, quando faz alguma coisa bela, útil, o
homem lhe chama sua filha, criação sua. Pois
bem! O mesmo se dá com relação a Deus: somos Seus filhos, pois que somos obra Sua.”
78. Os Espíritos tiveram
princípio, ou existem, como Deus, de toda a eternidade?
“Se não tivessem tido
princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação Sua e se acham submetidos à
Sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é incontestável. Quanto,
porém, ao modo porque nos criou e em que momento o fez, nada sabemos. Podes dizer que não
tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter
sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te,
nenhum o sabe: aí é que está o mistério.”
79. Pois que há dois
elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento material,
poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o
são do elemento material?
“Evidentemente. Os Espíritos
são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a
individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação se operou é que são
desconhecidos.”
80. A criação dos
Espíritos é permanente, ou só se deu na origem dos tempos?
“É permanente. Quer dizer:
Deus jamais deixou de criar.”
81. Os Espíritos se
formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
“Deus os cria, como a todas
as outras criaturas, pela Sua vontade. Mas, repito ainda uma vez, a origem deles é
mistério.”
82. Será certo dizer-se
que os Espíritos são imateriais?
“Como se pode definir uma
coisa, quando faltam termos de comparação e com uma linguagem deficiente? Pode
um cego de nascença definir a luz? Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais
exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma
coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que
escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos.”
Dizemos que os Espíritos são
imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome
de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus
efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo
paladar e pelo tato. Não compreende as idéias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que
lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres
sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por
um esforço da imaginação.
83. Os Espíritos têm fim?
Compreende-se que seja eterno o princípio donde eles emanam, mas o que
perguntamos é se suas individualidades têm um termo e se, em dado tempo, mais ou menos
longo, o elemento de que são formados não se dissemina e volta à massa donde saiu, como
sucede com os corpos materiais. É difícil de conceber-se que uma coisa que teve começo
possa não ter fim.
“Há muitas coisas que não
compreendeis, porque tendes limitada a inteligência.
Isso, porém, não é razão
para que as repilais. O filho não compreende tudo o que a seu pai é compreensível, nem o
ignorante tudo o que o sábio apreende. Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim. É
tudo o que podemos, por agora, dizer.”
Mundo normal primitivo
84. Os Espíritos
constituem um mundo à parte, fora daquele que vemos?
“Sim, o mundo dos Espíritos,
ou das inteligências incorpóreas.”
85. Qual dos dois, o
mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal, na ordem das coisas?
“O mundo espírita, que
preexiste e sobrevive a tudo.”
86. O mundo corporal
poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do
mundo espírita?
“Decerto. Eles são
independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro
incessantemente reagem.”
87. Ocupam os Espíritos
uma região determinada e circunscrita no espaço?
“Estão por toda parte.
Povoam infinitamente os espaços infinitos. Tendes muitos deles de contínuo a vosso
lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois que os Espíritos são
uma das potências da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para execução de Seus
desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, por isso que há regiões
interditas aos menos adiantados.”
Forma e ubiqüidade dos
Espíritos
88. Os Espíritos têm
forma determinada, limitada e constante?
“Para vós, não; para nós,
sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea.”
a) - Essa chama ou
centelha tem cor?
“Tem uma coloração que, para
vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi,
conforme o Espírito é mais ou menos puro.”
Representam-se de ordinário
os gênios com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra a
natureza essencial dos
Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, porque aí está a sede da inteligência.
89. Os Espíritos gastam
algum tempo para percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a
rapidez do pensamento.”
a) - O pensamento não é a
própria alma que se transporta?
“Quando o pensamento está em
alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O
pensamento é um atributo.”
90. O Espírito que se
transporta de um lugar a outro tem consciência da distância que percorre e dos
espaços que atravessa, ou é subitamente transportado ao lugar onde quer ir?
“Dá-se uma e outra coisa. O
Espírito pode perfeitamente, se o quiser, inteirar-se da distância que percorre, mas
também essa distância pode desaparecer completamente, dependendo isso da sua
vontade, bem como da sua natureza mais ou menos depurada.”
91. A matéria opõe
obstáculo ao Espírito?
“Nenhum; eles passam através
de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente
acessíveis.”
92. Têm os Espíritos o
dom da ubiqüidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em
muitos pontos ao mesmo tempo?
“Não pode haver divisão de
um mesmo Espírito; mas, cada um é um centro que irradia para diversos lados.
Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um
somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios.
Contudo, não se divide.”
a) - Todos os Espíritos
irradiam com igual força?
“Longe disso. Essa força
depende do grau de pureza de cada um.”
Cada Espírito é uma unidade
indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos
lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve
entender o dom da ubiqüidade atribuído aos Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma
centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do
horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar,
transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos.
Perispírito
93. O Espírito,
propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre
envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância,
vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz
vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde
queira.”
Envolvendo o gérmen de um
fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por
comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao
Espírito propriamente dito.
94. De onde tira o
Espírito o seu invólucro semimaterial?
“Do fluido universal de cada
globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo
a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”
a) - Assim, quando os
Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais
grosseiro?
“É necessário que se
revistam da vossa matéria, já o dissemos.”
95. O invólucro
semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?
“Tem a forma que o Espírito
queira. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no
estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável.”
Diferentes ordens de
Espíritos
96. São iguais os
Espíritos, ou há entre eles qualquer hierarquia?
“São de diferentes ordens,
conforme o grau de perfeição que tenham alcançado.”
97. As ordens ou graus de
perfeição dos Espíritos são em número determinado?
“São ilimitadas em número,
porque entre elas não há linhas de demarcação traçadas como barreiras, de sorte que
as divisões podem ser multiplicadas ou restringidas livremente.
Todavia, considerando-se os
caracteres gerais dos Espíritos, elas podem reduzir-se a três principais.
“Na primeira, colocar-se-ão
os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda
os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão
à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A
ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhes retardam o progresso, eis o
que os caracteriza.”
98. Os Espíritos da
segunda ordem, para os quais o bem constitui a preocupação dominante, têm o poder de
praticá-lo?
“Cada um deles dispõe desse
poder, de acordo com o grau de perfeição a que chegou. Assim, uns possuem a
ciência, outros a sabedoria e a bondade. Todos, porém, ainda têm que sofrer provas.”
99. Os da terceira
categoria são todos essencialmente maus?
“Não; uns há que não fazem
nem o mal nem o bem; outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam
satisfeitos quando se lhes depara ocasião de praticá-lo. Há também os levianos ou
estouvados, mais perturbadores do que malignos, que se comprazem antes na malícia do que na
malvadez e cujo prazer consiste em mistificar e causar pequenas contrariedades, de que se
riem.”
Escala espírita
100. OBSERVAÇÕES
PRELIMINARES. - A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento
deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se.
Esta classificação, aliás, nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria
apresenta caráter definido. De um grau a outro a transição é insensível e, nos limites
extremos, os matizes se apagam, como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris,
ou, também, como nos diferentes períodos da vida do homem.
Podem, pois, formar-se maior
ou menor número de classes, conforme o ponto de vista donde se considere a
questão. Dá-se aqui o que se dá com todos os sistemas de classificação científica, que podem ser
mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a
inteligência. Sejam, porém, quais forem, em nada alteram as bases da ciência. Assim, é natural
que inquiridos sobre este ponto, hajam os Espíritos divergido quanto ao número das
categorias, sem que isto tenha valor algum. Entretanto, não faltou quem se agarrasse a esta
contradição aparente, sem refletir que os Espíritos nenhuma importância ligam ao que é
puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo.
Deixam-nos a nós a forma, a
escolha dos termos, as classificações, numa palavra, os sistemas.
Façamos ainda uma
consideração que se não deve jamais perder de vista, a de que entre os Espíritos,
do mesmo modo que entre os homens, há os muito ignorantes, de maneira que nunca serão
demais as cautelas que se tomem contra a tendência
a crer que, por serem Espíritos, todos devam saber tudo.
Qualquer classificação exige
método, análise e conhecimento aprofundado do assunto. Ora no mundo dos Espíritos, os
que possuem limitados conhecimentos são, como neste mundo, os ignorantes, os inaptos a
apreender uma síntese, a formular um sistema. Só muito imperfeitamente percebem ou
compreendem uma classificação qualquer. Consideram da primeira categoria todos os
Espíritos que lhes são superiores, por não poderem apreciar as gradações de saber, de
capacidade e de moralidade que os distinguem, como sucede entre nós a um homem rude com
relação aos civilizados. Mesmo os que sejam capazes de tal apreciação podem mostra-se
divergentes, quanto às particularidades, conformemente aos pontos de vista em que se
achem, sobretudo se se trata de uma divisão, que nenhum cunho absoluto apresente. Lineu,
Jussieu e Tournefort tiveram cada um o seu método, sem que a Botânica houvesse em
conseqüência experimentado modificação alguma. É que nenhum deles inventou as plantas,
nem seus caracteres. Apenas observaram as analogias, segundo as quais formaram os grupos ou
classes. Foi assim que também nós procedemos. Não inventamos os Espíritos, nem
seus caracteres. Vimos e observamos, julgamo-los pelas suas palavras e atos, depois os
classificamos pelas semelhanças, baseando-nos em dados que eles próprios nos forneceram.
Os Espíritos, em geral,
admitem três categorias principais, ou três grandes divisões.
Na última, a que fica na
parte inferior da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela
predominância da matéria sobre o Espírito e pela propensão para o mal.
Os da segunda se
caracterizam pela predominância do Espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons
Espíritos. A primeira, finalmente, compreende os Espíritos puros, os que atingiram o grau supremo
da perfeição.
Esta divisão nos pareceu
perfeitamente racional e com caracteres bem positivados. Só nos restava pôr em
relevo, mediante subdivisões em número suficiente, os principais matizes do conjunto. Foi o
que fizemos, com o concurso dos Espíritos,
cujas benévolas instruções jamais nos faltaram.
Com o auxílio desse quadro,
fácil será determinar-se a ordem, assim como o grau de superioridade ou de
inferioridade dos que possam entrar em relações conosco e, por conseguinte, o grau de
confiança ou de estima que mereçam. É, de certo modo, a chave da ciência espírita, porquanto
só ele pode explicar as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos
acerca das desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos.
Faremos, todavia, notar que
estes não ficam pertencendo, exclusivamente, a tal ou tal classe. Sendo sempre gradual
o progresso deles e muitas vezes mais acentuado num sentido do que em outro, pode
acontecer que muitos reúnam em si os caracteres de várias categorias, o que seus atos
e linguagem tornam possível apreciar-se.
Terceira ordem. -
Espíritos imperfeitos
101. CARACTERES GERAIS. -
Predominância da matéria sobre o Espírito.
Propensão para o mal.
Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são conseqüentes.
Têm a intuição de Deus, mas
não O compreendem.
Nem todos são essencialmente
maus. Em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira
maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem,
já denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e rejubilam
quando uma ocasião se lhes depara de praticá-lo.
A inteligência pode achar-se
neles aliada à maldade ou à malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham
alcançado de desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e mais ou menos
abjetos seus sentimentos.
Restritos conhecimentos têm
das coisas do mundo espírita e o pouco que sabem se confunde com as idéias e
preconceitos da vida corporal. Não nos podem dar mais do que noções errôneas e
incompletas; entretanto, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas, o observador
atento encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.
Na linguagem de que usam se
lhes revela o caráter. Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau
pensamento pode ser classificado na terceira ordem.
Conseguintemente, todo mau
pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem.
Eles vêem a felicidade dos
bons e esse espetáculo lhes constitui incessante tormento, porque os faz experimentar
todas as angústias que a inveja e o ciúme podem causar.
Conservam a lembrança e a
percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes
mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente, pelos males de que padeceram
em vida e pelos que ocasionam aos outros. E, como sofrem por longo tempo, julgam que
sofrerão para sempre. Deus, para puní-los, quer que assim julguem.
Podem compor cinco classes
principais.
102. Décima classe.
ESPÍRITOS IMPUROS. - São inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas
preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, sopram a discórdia e a desconfiança e se
mascaram de todas as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante
fraco para cederem às suas sugestões, a fim de induzi-los à perdição, satisfeitos com o
conseguirem retardar-lhes o adiantamento, fazendo-os sucumbir nas provas por que passam.
Nas manifestações dão-se a
conhecer pela linguagem. A trivialidade e a grosseria das expressões, nos
Espíritos, como nos homens, é sempre indício de inferioridade moral, senão também intelectual.
Suas comunicações exprimem a baixeza de seus pendores e, se tentam iludir, falando com
sensatez, não conseguem sustentar por muito tempo o papel e acabam sempre por se
traírem.
Alguns povos os arvoraram em divindades maléficas; outros os designam
pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos do mal.
Quando encarnados, os seres vivos que eles constituem se mostram propensos
a todos os vícios geradores das paixões vis e degradantes: a sensualidade,
a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. Fazem
o mal por prazer, as mais das vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase
sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São flagelos para
a humanidade, pouco importando a categoria social a
que pertençam, e o verniz da civilização não os forra ao opróbrio e à
ignomínia.

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