460. De par com os
pensamentos que nos são próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito
que pensa. Não ignorais que, freqüentemente, muitos pensamentos vos acodem a um
tempo sobre o mesmo assunto, não raro, contrários uns dos outros. Pois bem! No
conjunto deles, estão sempre de mistura os vossos com os nossos. Daí a incerteza em que vos
vedes. É que tendes em vós duas idéias a se combaterem.”
461. Como havemos de
distinguir os pensamentos que nos são próprios dos que nos são sugeridos?
“Quando um pensamento vos é
sugerido, tendes a impressão de que alguém vos fala. Geralmente, os
pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. Afinal, não vos é de grande
interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibais fazê-la. Não a fazendo, obra
o homem com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o
pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.”
462. É sempre de dentro
de si mesmos que os homens inteligentes e de gênio tiram suas idéias?
“Algumas vezes, elas lhes
vêm do seu próprio Espírito, porém, de outras muitas, lhes são sugeridas por
Espíritos que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de vulgarizá-las. Quando tais
homens não as acham em si mesmos, apelam para a inspiração. Fazem assim, sem o
suspeitarem, uma verdadeira evocação.”
Se fora útil que pudéssemos
distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos que nos são sugeridos,
Deus nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu o de
diferençarmos o dia da noite. Quando uma coisa se conserva imprecisa, é que convém
assim aconteça.
463. Diz-se comumente ser
sempre bom o primeiro impulso. É exato?
“Pode ser bom, ou mau,
conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom naquele que atende às boas
inspirações.”
464. Como distinguirmos
se um pensamento sugerido procede de um bom Espírito ou de um Espírito mau?
“Estudai o caso. Os bons
Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir.”
465. Com que fim os
Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
“Para que sofrais como eles
sofrem.”
a) - E isso lhes diminui
os sofrimentos?
“Não; mas fazem-no por
inveja, por não poderem suportar que haja seres felizes.”
b) - De que natureza é o
sofrimento que procuram infligir aos outros?
“Os que resultam de ser de
ordem inferior a criatura e de estar afastada de Deus.”
466. Por que permite Deus
que Espíritos nos excitem ao mal?
“Os Espíritos imperfeitos
são instrumentos próprios a por em prova a fé e a constância dos homens na
prática do bem. Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o
passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. A nossa missão consiste em te
colocarmos no bom caminho. Desde que sobre ti atuam influências más, é que as atrais,
desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes
praticá-lo. Só quando queiras o mal, podem eles ajudar-te para a prática do mal. Se fores
propenso ao assassínio, terás em torno de ti uma nuvem de Espíritos a te alimentarem
no íntimo esse pendor. Mas outros também te cercarão, esforçando-se por te
influenciarem para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor dos teus
atos.”
É assim que Deus confia à
nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a liberdade de
ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
467. Pode o homem
eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal?
“Pode, visto que tais
Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos
seus pensamentos, os atraem.”
468. Renunciam às suas
tentativas os Espíritos cuja influência a vontade do homem repele?
“Que querias que fizessem?
Quando nada conseguem, abandonam o campo. Entretanto, ficam à espreita
de um momento propício, como o gato que tocaia o rato.”
469. Por que meio podemos
neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Praticando o bem e pondo em
Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e
aniquilareis o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos
Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos
insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que
esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos
ensinou a dizer: “Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.”
470. Os Espíritos, que ao
mal procuram induzir-nos e que põem assim em prova a nossa firmeza no bem,
procedem desse modo cumprindo missão? E, se assim é, cabe-lhes alguma responsabilidade?
“A nenhum Espírito é dada a
missão de praticar o mal. Aquele que o faz fá-lo por conta própria,
sujeitando-se, portanto, às conseqüências. Pode Deus permitir-lhe que
assim proceda, para vos
experimentar; nunca, porém, lhe determina tal procedimento. Competevos, pois repeti-lo.”
471. Quando
experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível, ou de íntima satisfação,
sem que lhe conheçamos a causa, devemos atribuí-la unicamente a uma disposição física?
“É quase sempre efeito das
comunicações em que inconscientemente entrais com os Espíritos, ou da que com
elas tivestes durante o sono.”
472. Os Espíritos que
procuram atrair-nos para o mal se limitam a aproveitar as circunstâncias em que nos
achamos, ou podem também criá-las?
“Aproveitam as
circunstâncias ocorrentes, mas também costumam criá-las, impelindo-vos, mau grado
vosso, para aquilo que cobiçais. Assim, por exemplo, encontra um homem, no seu caminho,
certa quantia. Não penses tenham sido os Espíritos que a trouxeram para ali. Mas,
eles podem inspirar ao homem a idéia de tomar aquela direção e sugerir-lhe depois a de se
apoderar da importância achada, enquanto outros lhe sugerem a de restituir o dinheiro ao
seu legítimo dono. O mesmo se dá com relação a todas as demais tentações.”
Possessos
473. Pode um Espírito
tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é,
introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?
“O Espírito não entra em um
corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos
defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele.
Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha
revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este
terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência
material.”
474. Desde que não há
possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo,
pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada
ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?
“Sem dúvida, e são esses os
verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua
nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por
desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos,
têm sido tomados por possessos.”
O vocábulo possesso,
na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres
maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu
corpo. Pois que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar
simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da idéia a que
esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a
dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos
imperfeitos que a subjuguem.
475. Pode alguém por si
mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles?
“Sempre é possível, a quem
quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.”
476. Mas, não pode
acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o subjugado
não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que cesse a sujeição da
outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa terceira pessoa?
“Sendo ela um homem de bem,
a sua vontade poderá ter eficácia, desde que apele para o concurso dos bons
Espíritos, porque, quanto mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os
Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair.
Todavia, nada poderá, se o
que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada uma
dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos. Qualquer, porém, que seja o
caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá. Os bons Espíritos
não lhe atendem ao chamado e os maus não o temem.”
477. As fórmulas de
exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?
“Não. Estes últimos riem e
se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério.”
478. Pessoas há, animadas
de boas intenções e que, nada obstante, não deixam de ser obsidiadas. Qual,
então, o melhor meio de nos livrarmos dos Espíritos obsessores?
“Cansar-lhes a paciência,
nenhum valor lhes dar às sugestões, mostrar-lhes que perdem o tempo. Em vendo que
nada conseguem, afastam-se.”
479. A prece é meio
eficiente para a cura da obsessão?
“A prece é em tudo um
poderoso auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras,
para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir.
É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a
causa da atração dos maus Espíritos.”
480. Que se deve pensar
da expulsão dos demônios, mencionada no Evangelho?
“Depende da interpretação
que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito que subjugue um indivíduo, desde
que se lhe destrua a influência, ele terá sido verdadeiramente expulso. Se ao demônio
atribuirdes a causa de uma enfermidade, quando a houverdes curado direis com acerto que
expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido
que empresteis às palavras. As maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos, uma vez
que se atenda apenas à forma, ou que se considere como realidade a alegoria.
Compreendei bem isto e não o esqueçais nunca, pois que se presta a uma aplicação geral.”
Convulsionários
481. Desempenham os
Espíritos algum papel nos fenômenos que se dão com os indivíduos chamados
convulsionários?
“Sim e muito importante, bem
como o magnetismo, que é a causa originária de tais fenômenos. O charlatanismo,
porém, os tem amiúde explorado e exagerado, de sorte a lançá-los ao ridículo.”
a) De que natureza são,
em geral, os Espíritos que concorrem para a produção desta espécie de
fenômenos?
“Pouco elevada. Supondes que
Espíritos superiores se deleitem com tais coisas?”
482. Como é que sucede
estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos
convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas?
“Efeito de simpatia. As
disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos
efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos
naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.”
Entre as singulares
faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de
que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além
de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por
simpatia, etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam
numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns
sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados,
inconscientemente.
483. Qual a causa da
insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim
como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?
“Em alguns é,
exclusivamente, efeito do magnetismo que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que
certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade.
Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis
que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente,
nada vê e nada ouve?”
A exaltação fanática e o
entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma
calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão
admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico.
Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão
gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os
poria trêmulos.
Visto que esses fenômenos
dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna
perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a
razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que
aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição,
mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a
autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo.
Sabe-se, demais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a
ação dos Espíritos é direta e espontânea.
Afeição que os Espíritos
votam a certas pessoas
484. Os Espíritos se
afeiçoam de preferência a certas pessoas?
“Os bons Espíritos
simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos
inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como
conseqüência da conformidade dos sentimentos.”
485. É exclusivamente
moral a afeição que os Espíritos votam a certas pessoas?
“A verdadeira afeição nada
tem de carnal; mas, quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz só
por afeição. À estima que essa pessoa lhe inspira pode agregar-se das paixões humanas.”
486. Interessam-se os
Espíritos pelas nossas desgraças e pela nossa prosperidade? Afligem-se os que nos
querem bem com os males que padecemos durante a vida?
“Os bons Espíritos fazem
todo o bem que lhes é possível e se sentem ditosos com as vossas alegrias. Afligem-se
com os vossos males, quando os não suportais com resignação, porque nenhum benefício
então tirais deles, assemelhando-vos, em tais casos, ao doente que rejeita a beberagem amarga
que o há de curar.”
487. Dentre os nossos
males, de que natureza são os de que mais se afligem os Espíritos por nossa
causa? Serão os males físicos ou os morais?
“O vosso egoísmo e a dureza
dos vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males
imaginários que nascem do orgulho e da ambição. Rejubilam com os que redundam na abreviação
do tempo das vossas provas.”
Sabendo ser transitória a
vida corporal e que as tribulações que lhe são inerentes constituem meios de
alcançarmos melhor estado, os Espíritos mais se afligem pelos nossos males devidos a causas de
ordem moral, do que pelos nossos sofrimentos físicos, todos passageiros.
Pouco se incomodam com as
desgraças que apenas atingem as nossas idéias mundanas, tal qual fazemos
com as mágoas pueris das crianças.
Vendo nas amarguras da vida
um meio de nos adiantarmos, os Espíritos as consideram como a crise
ocasional de que resultará a salvação do doente. Compadecem-se dos nossos sofrimentos, como
nos compadecemos dos de um amigo. Porém, enxergando as coisas de um ponto de vista
mais justo, os apreciam de um modo diverso do nosso. Então, ao passo que os bons nos
levantam o ânimo no interesse do nosso futuro, os outros nos impelem ao desespero,
objetivando comprometer-nos.
488. Os parentes e
amigos, que nos precederam na outra vida, maior simpatia nos votam do que os Espíritos
que nos são estranhos?
“Sem dúvida e quase sempre
vos protegem como Espíritos, de acordo com o poder de que dispõem.”
a) - São sensíveis à
afeição que lhes conservamos?
“Muito sensíveis, mas
esquecem-se dos que os olvidam.”
Anjos de guarda.
Espíritos protetores, familiares ou simpáticos
489. Há Espíritos que se
liguem particularmente a um indivíduo para protegê-lo?
“Há o irmão espiritual,
o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.”
490. Que se deve entender
por anjo de guarda ou anjo guardião?
“O Espírito protetor,
pertencente a uma ordem elevada.”
491. Qual a missão do
Espírito protetor?
“A de um pai com relação aos
filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus
conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.”
492. O Espírito protetor
se dedica ao indivíduo desde o seu nascimento?
“Desde o nascimento até a
morte e muitas vezes o acompanha na vida espírita, depois da morte, e mesmo
através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do
Espírito.”
493. É voluntária ou
obrigatória a missão do Espírito protetor?
“O Espírito fica obrigado a
vos assistir, uma vez que aceitou esse encargo. Cabe-lhe, porém, o direito de escolher
seres que lhe sejam simpáticos. Para alguns, é um prazer; para outros, missão ou dever.”
a) - Dedicando-se a uma
pessoa, renuncia o Espírito a proteger outros indivíduos?
“Não; mas protege-os menos
exclusivamente.”
494. O Espírito protetor
fica fatalmente preso à criatura confiada à sua guarda?
“Freqüentemente sucede que
alguns Espíritos deixam suas posições de protetores para desempenhar diversas
missões. Mas, nesse caso, outros os substituem.”
495. Poderá dar-se que o
Espírito protetor abandone o seu protegido, por se lhe mostrar este rebelde aos
conselhos?
“Afasta-se, quando vê que
seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de
submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e
sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que
este o chame.
“É uma doutrina, esta, dos
anjos guardiães, que, pelo seu encanto e doçura, devera converter os mais
incrédulos. Não vos parece grandemente
consoladora a idéia de terdes sempre junto de vós seres que vos são superiores, prontos
sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem;
mais sinceros e dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na
Terra? Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e,
aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim, onde
quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares
de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas
cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados
conselhos.
“Ah! se conhecêsseis bem
esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria
dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo
constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o
abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da
verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!” Oh! Interrogai os vossos anjos
guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores
amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis
enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis
vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De
uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e idéias preconcebidas. Entrai
na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que
a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus.
“Aos que considerem
impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão
laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora
muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e não obstante viverem noutro mundo, os
nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos.
Gozamos de qualidades que
não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às
nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de
guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o
vê no bom caminho; sofre, quando lhe ele despreza os conselhos.
“Não receeis fatigar-nos com
as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco.
Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com
o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados
hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando
de roldão a incredulidade e a ignorância. Homens doutos, instruí os vossos
semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. Não imaginais que obra fazeis desse modo:
a do Cristo, a que Deus vos impõe. Para que vos outorgou Deus a inteligência e o
saber, senão para o repartirdes com os vossos irmãos, senão para fazerdes que se adiantem
pela senda que conduz à bem-aventurança, à felicidade eterna?”
São Luís, Santo Agostinho.
Nada tem de surpreendente a
doutrina dos anjos guardiães, a velarem pelos seus protegidos, mau grado à
distância que medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na Terra
o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus conselhos
correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em que os Espíritos possam, de
um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra, eles tomaram sob sua proteção,
uma vez que, para eles, a distância que vai de um mundo a outro é menor do que a que, neste
planeta, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido universal, que
entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos,
como o ar é, para nós, o da transmissão do som?
496. O Espírito, que
abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal?
“Os bons Espíritos nunca
fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhes tomam o lugar. Costumais então
lançar à conta da sorte as desgraças que vos acabrunham, quando só as sofreis por culpa
vossa.”
497. Pode um Espírito
protetor deixar o seu protegido à mercê de outro Espírito que lhe queira fazer mal?
“Os maus Espíritos se unem
para neutralizar a ação dos bons. Mas, se o quiser, o protegido dará toda a força
ao seu protetor. Pode acontecer que o bom Espírito encontre alhures uma boa-vontade a
ser auxiliada. Aplica-se então em auxiliá-la, aguardando que seu protegido lhe volte.”
498. Será por não poder
lutar contra Espíritos maléficos que um Espírito protetor deixa que seu protegido
se transvie na vida?
“Não é porque não possa, mas
porque não quer. E não quer, porque das provas sai o seu protegido mais instruído
e perfeito. Assiste-o sempre com seus conselhos, dando-os por meio dos bons pensamentos
que lhe inspira, porém que quase nunca são atendidos. A fraqueza, o descuido ou o
orgulho do homem são exclusivamente o que empresta força aos maus Espíritos, cujo poder
todo advém do fato de lhes não opordes resistência.”
499. O Espírito protetor
está constantemente com o seu protegido? Não haverá alguma circunstância em
que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista?
“Há circunstâncias em que
não é necessário esteja o Espírito protetor junto do seu protegido.”
500. Momentos haverá em
que o Espírito deixe de precisar, de então por diante, do seu protetor?
“Sim, quando ele atinge o
ponto de poder guiar-se a si mesmo, como sucede ao estudante, para o qual um
momento chega em que não mais precisa de mestre. Isso, porém, não se dá na Terra.”
501. Por que é oculta a
ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem, não
o fazem de modo ostensivo?
“Se vos fosse dado contar
sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não
progrediria. para que este possa adiantar-se, precisa de experiência, adquirindo-a freqüentemente
à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como a criança a quem
não consentem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada
de maneira que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis
responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o
homem se confia às suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu guia
e, de tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo.”
502. O Espírito protetor,
que consegue trazer ao bom caminho o seu protegido, lucra algum bem para si?
“Constitui isso um mérito
que lhe é levado em conta, seja para seu progresso, seja para sua felicidade.
Sente-se ditoso quando vê bem sucedidos os seus esforços, o que representa, para ele, um
triunfo, como triunfo é, para um preceptor, os bons êxitos do seu educando.”
a) - É responsável pelo
mau resultado de seus esforços?
“Não, pois que fez o que de
si dependia.”
503. Sofre o Espírito
protetor quando vê que seu protegido segue mau caminho, não obstante os avisos que
dele recebe? Não há aí uma causa de turbação da sua felicidade?
“Compungem-no os erros do
seu protegido, a quem lastima. Tal aflição, porém, não tem analogia com as
angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz
hoje, amanhã se fará.”
504. Poderemos sempre
saber o nome do Espírito nosso protetor, ou anjo de guarda?
“Como quereis saber nomes
para vós inexistentes? Supondes que Espíritos só há os que conheceis?”
a) - Como então o podemos
invocar, se o não conhecemos?
“Dai-lhe o nome que
quiserdes, o de um Espírito superior que vos inspire simpatia ou veneração. O vosso
protetor acudirá ao apelo que com esse nome lhe dirigirdes, visto que todos os bons Espíritos
são irmãos e se assistem mutuamente.”
505. Os protetores, que
dão nomes conhecidos, sempre são, realmente, os Espíritos das personalidades que
tiveram esses nomes?
“Não. Muitas vezes, os que
os dão são Espíritos simpáticos aos que de tais nomes usaram na Terra e, a mando
destes, respondem ao vosso chamamento. Fazeis questão de nomes; eles tomam um que vos
inspire confiança. Quando não podeis desempenhar pessoalmente determinada
missão, não costumais mandar que outro, por quem respondeis como por vós mesmos, obre em
vosso nome?”
506. Na vida espírita,
reconheceremos o Espírito nosso protetor?
“Decerto, pois não é raro
que o tenhais conhecido antes de encarnardes.”
507. Pertencem todos os
Espíritos protetores à classe dos Espíritos elevados? Podem contar-se entre os
de classe média? Um pai, por exemplo, pode tornar-se o Espírito protetor de seu filho?
“Pode, mas a proteção
pressupõe certo grau de elevação e um poder ou uma virtude a mais, concedidos por Deus.
O pai, que protege seu filho, também pode ser assistido por um Espírito mais elevado.”
508. Os Espíritos que se
achavam em boas condições ao deixarem a Terra, sempre podem proteger os que
lhes são caros e que lhes sobrevivem?
“Mais ou menos restrito é o
poder de que desfrutam. A situação em que se encontram nem sempre lhes
permite inteira liberdade de ação.”
509. Quando em estado de
selvageria ou de inferioridade moral, têm os homens, igualmente, seus
Espíritos protetores? E, assim sendo, esses Espíritos são de ordem tão elevada quanto a dos
Espíritos protetores de homens muito adiantados?
“Todo homem tem um Espírito
que por ele vela, mas as missões são relativas ao fim que visam. Não dais a uma
criança, que está aprendendo a ler, um professor de filosofia. O progresso dos Espírito
familiar guarda relação com o do Espírito protegido. Tendo um Espírito que vela por vós,
podeis tornar-vos, a vosso turno, o protetor de outro que vos seja inferior e os progressos que
este realize, com o auxílio que lhe dispensardes, contribuirão para o vosso adiantamento.
Deus não exige do Espírito mais do que comportem a sua natureza e o grau de
elevação a que já chegou.”
510. Quando o pai, que
vela pelo filho, reencarna, continua a vela por ele?
“Isso é mais difícil.
Contudo, de certo modo o faz, pedindo, num instante de desprendimento, a um
Espírito simpático que o assista nessa missão. Demais, os Espíritos só aceitam missões que
possam desempenhar até ao fim. “Encarnado, mormente em
mundo onde a existência é material, o Espírito se acha muito sujeito ao corpo para
poder dedicar-se inteiramente a outro Espírito, isto é, para poder assisti-lo
pessoalmente. Tanto assim que os que ainda se não elevaram bastante são também assistidos por
outros, que lhes estão acima, de tal sorte que, se por qualquer circunstância um vem a
faltar, outro lhe supre a falta.”