511. A cada indivíduo
achar-se-á ligado, além do Espírito protetor, um mau Espírito, com o fim de
impeli-lo ao erro e de lhe proporcionar ocasiões de lutar entre o bem e o mal?
“Ligado, não é o termo. É
certo que os maus Espíritos procuram desviar do bom caminho o homem, quando se
lhes depara ocasião. Sempre, porém, que um deles se liga a um indivíduo, fá-lo por si
mesmo, porque conta ser atendido. Há então luta entre o bom e o mau, vencendo aquele por
quem o homem se deixe influenciar.”
512. Podemos ter muitos
Espíritos protetores?
“Todo homem conta sempre
Espíritos, mais ou menos elevados, que com ele simpatizam, que lhe dedicam
afeto e por ele se interessam, como também tem junto de si outros que o assistem no
mal.”
513. Os Espíritos que
conosco simpatizam atuam em cumprimento de missão?
“Não raro, desempenham
missão temporária; porém, as mais das vezes, são apenas atraídos pela identidade de
pensamentos e sentimentos, assim para o bem como para o mal.”
a) - Parece lícito
inferir-se daí que os Espíritos a quem somos simpáticos podem ser bons ou maus, não?
“Sim, qualquer que seja o
seu caráter, o homem sempre encontra Espíritos que com ele simpatizem.”
514. Os Espíritos
familiares são os mesmos a quem chamamos Espíritos simpáticos ou Espíritos protetores?
“Há gradações na proteção e
na simpatia. Dai-lhes os nomes que quiserdes. O Espírito familiar é antes o
amigo da casa.”
Das explicações acima e das
observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se afeiçoam ao homem, pode-se
deduzir o seguinte: O Espírito protetor, anjo de
guarda, ou bom gênio é o que tem por missão acompanhar o homem na vida e
ajudá-lo a progredir. É sempre
de natureza superior, com relação ao protegido.
Os Espíritos familiares se
ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, com o fim de lhes serem
úteis, dentro dos limites do poder, quase sempre muito restrito, de que dispõe. São bons, porém
muitas vezes pouco adiantados e mesmo um tanto levianos.
Ocupam-se de boamente com as
particularidades da vida íntima e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos
protetores.
Os Espíritos simpáticos são
os que se sentem atraídos para o nosso lado por afeições particulares e ainda por uma
certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o bem como para o mal. De
ordinário, a duração de suas relações se acha subordinada às circunstâncias.
O mau gênio é um Espírito
imperfeito ou perverso, que se liga ao homem para desviá-lo do bem. Obra,
porém, por impulso próprio e não no desempenho de missão. A tenacidade da sua ação está
em relação direta com a maior ou facilidade de acesso que encontre por parte do homem,
que goza sempre da liberdade de escutar-lhe a voz ou de lhe cerrar os ouvidos.
515. Que se há de pensar
dessas pessoas que se ligam a certos indivíduos para levá-los à perdição, ou
para guiá-los pelo bom caminho?
“Efetivamente, certas
pessoas exercem sobre outras uma espécie de fascinação que parece irresistível. Quando
isso se dá no sentido do mal, são maus Espíritos, de que outros Espíritos também maus se
servem para subjugá-las. Deus permite que tal coisa ocorra para vos experimentar.”
516. Poderiam os nossos
bom e mau gênios encarnar, a fim de mais perto nos acompanharem na vida?
“Isso às vezes se dá. Porém,
o que mais freqüentemente se verifica é encarregarem dessa missão outros
Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.”
517. Haverá Espíritos que
se liguem a uma família inteira para protegê-la?
“Alguns Espíritos se ligam
aos membros de uma determinada família, que vivem juntos e unidos pela afeição; mas, não acrediteis em
Espíritos protetores do orgulho das raças.”
518. Assim como são
atraídos, pela simpatia, para certos indivíduos, são-no igualmente os Espíritos,
por motivos particulares, para as reuniões de indivíduos?
“Os Espíritos preferem estar
no meio dos que se lhes assemelham. Acham-se aí mais à vontade e mais certos de
serem ouvidos. É pelas suas tendências que o homem atrai os Espíritos e isso quer esteja
só, quer faça parte de um todo coletivo, como uma sociedade, uma cidade, ou um povo.
Portanto, as sociedades, as cidades e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles
predominantes, assistidos por Espíritos mais ou menos elevados. Os Espíritos
imperfeitos se afastam dos que os repelem. Segue-se que o aperfeiçoamento moral das
coletividades, como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e a atrair os
bons, que estimulam e alimentam nelas o sentimento do bem, como outros lhes podem insuflar
as paixões grosseiras.”
519. As aglomerações de
indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, têm Espíritos protetores
especiais?
“Têm, pela razão de que
esses agregados são individualidades coletivas que, caminhando para um objetivo
comum, precisam de uma direção superior.”
520. Os Espíritos
protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos
indivíduos?
“Tudo é relativo ao grau de
adiantamento, quer se trate de coletividades, quer de indivíduos.”
521. Podem certos
Espíritos auxiliar o progresso das artes, protegendo os que às artes se dedicam?
“Há Espíritos protetores
especiais e que assistem os que os invocam, quando dignos dessa assistência. Que
queres, porém, que façam com os que julgam ser o que não são? Não lhes cabe fazer
que os cegos vejam, nem que os surdos ouçam.”
Os antigos fizeram, desses
Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a personificação
alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates
simbolizavam os Espíritos protetores da família. Também modernamente, as artes, as
diferentes indústrias, as cidades, os países têm seus patronos, que mais não são do que
Espíritos superiores, sob várias designações.
Tendo todo homem Espíritos
que com ele simpatizam, claro é que, nos corpos coletivos, a generalidade
dos Espíritos que lhes votam simpatia está em proporção com a generalidade dos indivíduos;
que os Espíritos estranhos são atraídos para essas coletividades pela
identidade dos gostos e das idéias; em suma, que esses agregados de pessoas, tanto quanto os
indivíduos, são mais ou menos bem assistidos e influenciados, de acordo com a natureza dos
sentimentos dominantes entre os elementos que os compõem.
Nos povos, determinam a
atração dos Espíritos os costumes, os hábitos, o caráter dominante e as leis, as leis
sobretudo, porque o caráter de uma nação se reflete nas suas leis.
Fazendo reinar em seu seio a
justiça, os homens combatem a influência dos maus Espíritos.
Onde quer que as leis
consagrem coisas injustas, contrárias à Humanidade, os bons Espíritos ficam em minoria e
a multidão, que aflui, dos maus mantém a nação aferrada às suas idéias e paralisa as
boas influências parciais, que ficam perdidas no conjunto, como insuladas espigas entre
espinheiros. Estudando-se os costumes dos povos ou de qualquer reunião de homens,
facilmente se forma idéia da população oculta que se lhes imiscui no modo de pensar e nos atos.
Pressentimentos
522. O pressentimento é
sempre um aviso do Espírito protetor?
“É o conselho íntimo e
oculto de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se
haja feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das fases
principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se submete. Tendo estas caráter
assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de
impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, fazendo-se ouvir quando lhe
chega o momento de sofrê-las, se torna pressentimento.”
523. Acontecendo que os
pressentimentos e a voz do instinto são sempre algum tanto vagos, que devemos
fazer, na incerteza em que ficamos?
“Quando te achares na
incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos,
e Ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.”
524. Os avisos dos
Espíritos protetores objetivam unicamente o nosso procedimento moral, ou também o
proceder que devamos adotar nos assuntos da vida particular?
“Tudo. Eles se esforçam para
que vivais o melhor possível. Mas, quase sempre tapais os ouvidos aos avisos
salutares e vos tornais desgraçados por culpa vossa.”
Os Espíritos protetores nos
ajudam com seus conselhos, mediante a voz da consciência que fazem
ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem sempre ligamos a isso a devida importância, outros
conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das pessoas que nos cercam. Examine cada
um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas
ocasiões recebeu conselhos de que se não aproveitou e que lhe teriam poupado muitos
desgostos, se os houvera escutado.
Influência dos Espíritos
nos acontecimentos da vida
525. Exercem os Espíritos
alguma influência nos acontecimentos da vida?
“Certamente, pois que vos
aconselham.”
a) - Exercem essa
influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm
ação direta sobre o cumprimento das coisas?
“Sim, mas nunca atuam fora
das leis da Natureza.”
Imaginamos erradamente que
aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários.
Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de
uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm
nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles.
Assim é que, provocado, por
exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso;
inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para
certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o
homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre-arbítrio.
526. Tendo, como têm,
ação sobre a matéria, podem os Espíritos provocar certos efeitos, com o objetivo
de que se dê um acontecimento? Por exemplo: um homem tem que morrer; sobe uma escada,
a escada se quebra e ele morre da queda. Foram os Espíritos que quebraram a escada,
para que o destino daquele homem se cumprisse?
“É exato que os Espíritos
têm ação sobre a matéria, mas para cumprimento das leis da Natureza, não para as
derrogar, fazendo que, em dado momento, ocorra um sucesso inesperado e em contrário
àquelas leis. No exemplo que figuraste, a escada se quebrou porque se achava podre, ou
por não ser bastante forte para suportar o peso de um homem.
Se era destino daquele homem
perecer de tal maneira, os Espíritos lhe inspirariam a idéia de subir a escada em questão,
que teria de quebrar-se com o seu peso, resultando-lhe daí a morte por um efeito natural
e sem que para isso fosse mister a produção de um milagre.”
527. Tomemos outro
exemplo, em que não entre a matéria em seu estado natural. Um homem tem que morrer
fulminado pelo raio. Refugia-se debaixo de uma árvore. Estala o raio e o mata. Poderá
dar-se tenham sido os Espíritos que provocaram a produção do raio e que o dirigiram
para o homem?
“Dá-se o mesmo que
anteriormente. O raio caiu sobre aquela árvore em tal momento, porque estava nas
leis da Natureza que assim acontecesse. Não foi encaminhado para a árvore, por se achar
debaixo dela o homem. A este, sim, foi inspirada a idéia de se abrigar debaixo de uma
árvore sobre a qual cairia o raio, porquanto a árvore não deixaria de ser atingida, só por não lhe
estar debaixo da fronde o homem.”
528. No caso de uma
pessoa mal intencionada disparar sobre outra um projetil que apenas lhe passe perto
sem a atingir, poderá ter sucedido que um Espírito bondoso haja desviado o projetil?
“Se o indivíduo alvejado não
tem que perecer desse modo, o Espírito bondoso lhe inspirará a idéia de se
desviar, ou então poderá ofuscar o que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal,
porquanto, uma vez disparada a arma, o projetil segue linha que tem de percorrer.”
529. Que se deve pensar
das balas encantadas, de que falam algumas lendas e que fatalmente atingem o
alvo?
“Pura imaginação. O homem
gosta do maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da Natureza.”
a) - Podem os Espíritos
que dirigem os acontecimentos terrenos ter obstada sua ação por Espíritos que
queiram o contrário?
“O que Deus quer se executa.
Se houver demora na execução, ou lhe surjam obstáculos, é porque Ele
assim o quis.”
530. Não podem os
Espíritos levianos e zombeteiros criar pequenos embaraços à realização dos nossos
projetos e transtornar as nossas previsões? Serão eles, numa palavra, os causadores do
que chamamos pequenas misérias da vida humana?
“Eles se comprazem em vos
causar aborrecimentos que representam para vós provas destinadas a exercitar a vossa paciência.
Cansam-se, porém, quando vêem que nada conseguem. Entretanto, não seria justo, nem acertado,
imputar-lhes todas as decepções que experimentais e de que sois os principais culpados pela
vossa irreflexão. Fica certo de que, se a tua louça se quebra, é mais por desazo teu do que
por culpa dos Espíritos.”
a) - Destes, os que
provocam contrariedades obram impelidos por animosidade pessoal, ou assim
procedem contra qualquer, sem motivo determinado, por pura malícia?
“Por uma e outra coisa. Às
vezes os que assim vos molestam são inimigos que granjeastes nesta ou em
precedente existência. Doutras vezes, nenhum motivo há.”
531. Extingue-se-lhes com
a vida corpórea a malevolência dos seres que nos fizeram mal na Terra?
“Muitas vezes reconhecem a
injustiça com que procederam e o mal que causaram. Mas, também, não é raro que
continuem a perseguir-vos, cheios de animosidade, se Deus o permitir, por ainda vos
experimentar.”
a) - Pode-se pôr termo a
isso? Por que meio?
“Podeis. Orando por eles e
lhes retribuindo o mal com o bem, acabarão compreendendo a injustiça do
proceder deles. Demais, se souberdes colocar-vos acima de suas maquinações,
deixar-vos-ão, por verificarem que nada lucram.”
A experiência demonstra que
alguns Espíritos continuam em outra existência a exercer as vinganças que
vinham tomando e que assim, cedo ou tarde, o homem paga o mal que tenha feito a outrem.
532. Têm os Espíritos o
poder de afastar de certas pessoas os males e de favorecê-las com a prosperidade?
“De todo, não; porquanto, há
males que estão nos decretos da Providência. Amenizam-vos, porém, as
dores, dando-vos paciência e resignação.
“Ficai igualmente sabendo
que de vós depende muitas vezes poupar-vos aos males, ou, quando menos,
atenuá-los.
A inteligência, Deus vo-la
outorgou para que dela vos sirvais e é principalmente por meio da vossa inteligência que os
Espíritos vos auxiliam, sugerindo-vos idéias propícias ao vosso bem. Mas, não assistem senão
os que sabem assistir-se a si mesmos. Esse o sentido destas palavras: Buscai e achareis,
batei e se vos abrirá.
“Sabei ainda que nem sempre
é um mal o que vos parece sê-lo. Freqüentemente, do que considerais um mal sairá
um bem muito maior. Quase nunca compreendeis isso, porque só atentais no momento
presente ou na vossa própria pessoa.”
533. Podem os Espíritos
fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que assim aconteça?
“Algumas vezes, como prova.
Quase sempre, porém, recusam, como se recusa à criança a satisfação de um
pedido inconsiderado.”
a) - São os bons ou os
maus Espíritos que concedem esses favores?
“Uns e outros. Depende da
intenção. As mais das vezes, entretanto, os que concedem são os Espíritos
que vos querem arrastar para o mal e que encontram meio fácil de o conseguirem,
facilitando-vos os gozos que a riqueza proporciona.”
534. Será por influência
de algum Espírito que, fatalmente, a realização dos nossos projetos parece encontrar
obstáculos?
“Algumas vezes é isso efeito
da ação dos Espíritos; muito mais vezes, porém, é que andais errados na elaboração
e na execução dos vossos projetos. Muito influem nesses casos a posição e o caráter
do indivíduo. Se vos obstinais em ir por um caminho que não deveis seguir, os Espíritos
nenhuma culpa têm dos vossos insucessos. Vós mesmos vos constituís em vossos maus
gênios.”
535. Quando algo de
venturoso nos sucede é ao Espírito nosso protetor que devemos agradecê-lo?
“Agradecei primeiramente a
Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois aos bons Espíritos que foram os
agentes da sua vontade.”
a) - Que sucederia se nos
esquecêssemos de agradecer?
“O que sucede aos ingratos.”
b) - No entanto, pessoas
há que não pedem nem agradecem e às quais tudo sai bem!
“Assim é, de fato, mas
importa ver o fim. Pagarão bem caro essa felicidade de que não são merecedores, pois
quanto mais houverem recebido, tanto maiores contas terão que prestar.”
Ação dos Espíritos nos
fenômenos da Natureza
536. São devidos a causas
fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes
fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos?
“Tudo tem uma razão de ser e
nada acontece sem a permissão de Deus.”
a) - Objetivam sempre o
homem esses fenômenos?
“Às vezes têm, como imediata
razão de ser, o homem. Na maioria dos casos, entretanto, têm por único
motivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da Natureza.”
b) - Concebemos
perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primária, nisto como em tudo; porém,
sabendo que os Espíritos exercem ação sobre a matéria e que são os agentes da vontade de
Deus, perguntamos se alguns dentre eles não exercerão certa influência sobre os
elementos para os agitar, acalmar ou dirigir?
“Mas evidentemente. Nem
poderia ser de outro modo. Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele
encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.”
537. A mitologia dos
antigos se fundava inteiramente em idéias espíritas, com a única diferença de que
consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos
com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio,
outros de presidir ao fenômeno da vegetação, etc. Semelhante crença é totalmente
destituída de fundamento?
“Tão pouco destituída é de
fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.”
a) - Poderá então haver
Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos?
“Tais Espíritos não habitam
positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as
atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os
compreendereis melhor.”
538. Formam categoria
especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza?
Serão seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados como nós?
“Que foram ou que o serão.”
a) - Pertencem esses
Espíritos às ordens superiores ou às inferiores da hierarquia espírita?
“Isso é conforme seja mais
ou menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenhem. Uns mandam,
outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior,
assim entre os Espíritos, como entre os homens.”
539. A produção de certos
fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou muitos se
reúnem, formando grandes massas, para produzi-los?
“Reúnem-se em massas
inumeráveis.”
540. Os Espíritos que
exercem ação nos fenômenos da Natureza operam com conhecimento de causa,
usando do livre-arbítrio, ou por
efeito de instintivo ou irrefletido impulso?
“Uns sim, outros não.
Estabeleçamos uma comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco,
fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e que
essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral?
Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas
necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Pois bem, do mesmo modo, os
Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para
a vida, antes que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do
livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se
constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas inteligências já
houverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material.
Depois, poderão dirigir as do mundo moral. É assim que tudo serve, que tudo se encadeia
na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser
átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em
seu conjunto!”
Os Espíritos durante os
combates
541. Durante uma batalha,
há Espíritos assistindo os combates e amparando cada um dos exércitos?
“Sim, e que lhes estimulam a
coragem.”
Os antigos figuravam os
deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Esses deuses eram simplesmente
Espíritos representados por alegorias.
542. Estando, numa
guerra, a justiça sempre de um dos lados, como pode haver Espíritos que tomem o
partido dos que se batem por uma causa injusta?
“Bem sabeis haver Espíritos
que só se comprazem na discórdia e na destruição. Para esses, a guerra é a guerra.
A justiça da causa pouco os preocupa.”
543. Podem alguns
Espíritos influenciar o general na concepção de seus planos de campanha?
“Sem dúvida alguma. Podem
influenciá-lo nesse sentido, como com relação a todas as concepções.”
544. Poderiam maus
Espíritos suscitar-lhe planos errôneos com o fim de levá-lo à derrota?
“Podem; mas, não tem ele o
livre-arbítrio? Se não tiver critério bastante para distinguir uma idéia falsa,
sofrerá as conseqüências e melhor faria se obedecesse, em vez de comandar.”
545. Pode, alguma vez, o
general ser guiado por uma espécie de dupla vista, por uma visão intuitiva, que
lhe mostre de antemão o resultado de seus planos?
“Isso se dá amiúde com o
homem de gênio. É o que ele chama inspiração e o que faz que obre com uma espécie de
certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam das
faculdades de que o vêem dotado.”
546. No tumulto dos
combates, que se passa com os Espíritos dos que sucumbem? Continuam, após a morte,
a interessar-se pela batalha?
“Alguns continuam a
interessar-se, outros se afastam.”
Dá-se, nos combates, o que
ocorre em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento, o Espírito fica
surpreendido e como que atordoado. Julga não estar morto. Parece-lhe que ainda toma
parte na ação. Só pouco a pouco a realidade lhe surge.
547. Após a morte, os
Espíritos, que como vivos se guerreavam, continuam a considerar-se inimigos e
se conservam encarniçados uns contra os outros?
“Nessas ocasiões, o Espírito
nunca está calmo. Pode acontecer que nos primeiros instantes depois da morte
ainda odeie o seu inimigo e mesmo o persiga. Quando, porém, se lhe restabelece a serenidade
nas idéias, vê que nenhum fundamento há mais para sua animosidade. Contudo, não é
impossível que dela guarde vestígios mais ou menos fortes, conforme o seu caráter.”
a) - Continua a ouvir o
rumor da batalha?
“Perfeitamente.”
548. O Espírito que, como
espectador, assiste calmamente a um combate observa o ato de separar-se a alma
do corpo? Como é que esse fenômeno se lhe apresenta à observação?
“Raras são as mortes
verdadeiramente instantâneas. Na maioria dos casos, o Espírito, cujo corpo acaba
de ser mortalmente ferido, não tem consciência imediata desse fato. Somente quando ele
começa a reconhecer a nova condição em que se acha, é que os assistentes podem
distinguí-lo, a mover-se ao lado do cadáver. Parece isso tão natural, que nenhum efeito desagradável
lhe causa a vista do corpo morto. Tendo-se a vida toda concentrado no Espírito, só
ele prende a atenção dos outros. É com ele que estes conversam, ou a ele é que
fazem determinações.”
Pactos
549. Algo de verdade
haverá nos pactos com os maus Espíritos?
“Não, não há pactos. Há,
porém, naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos. Por exemplo:
queres atormentar o teu vizinho e não sabes como hás de fazer. Chamas então por Espíritos
inferiores que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também
os sirvas em seus maus desígnios. Mas, não se segue que o teu vizinho não possa
livrar-se deles por meio de uma conjuração oposta e pela ação da sua vontade. Aquele que intenta
praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu
auxílio maus Espíritos, aos quais fica
então obrigado a servir, porque dele também precisam esses Espíritos, para o mal que queiram
fazer. Nisto é que consiste o pacto.”
O fato de o homem ficar, às
vezes, na dependência dos Espíritos inferiores nasce de se entregar aos maus
pensamentos que estes lhe sugerem e não de estipulação quaisquer que com eles faça. O pacto, no
sentido vulgar do termo, é uma alegoria representativa da simpatia existente entre um
indivíduo de natureza má e Espíritos malfazejos.
550. Qual o sentido das
lendas fantásticas em que figuram indivíduos que teriam vendido suas almas a
Satanás para obterem certos favores?
“Todas as fábulas encerram
um ensinamento e um sentido moral. O vosso erro consiste em tomá-las ao pé
da letra. Isso a que te referes é uma alegoria, que se pode explicar desta maneira:
aquele que chama em seu auxílio os Espíritos, para deles obter riquezas, ou qualquer outro
favor, rebela-se contra a Providência; renuncia à missão que recebeu e às provas que lhe
cumpre suportar neste mundo. Sofrerá na vida futura as conseqüências desse ato. Não
quer isto dizer que sua alma fique para sempre condenada à desgraça. Mas, desde que, em
lugar de se desprender da matéria, nela cada vez se enterra mais, não terá, no mundo dos
Espíritos, a satisfação de que haja gozado na Terra, até que tenha resgatado a sua falta,
por meio de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Coloca-se, por amor dos
gozos materiais, na dependência dos Espíritos impuros. Estabelece-se assim,
tacitamente, entre estes e o delinqüente, um pacto que o leva à sua perda, mas que lhe será
sempre fácil romper, se o quiser firmemente, granjeando a assistência dos bons
Espíritos.”
Poder oculto. Talismãs.
Feiticeiros
551. Pode um homem mau,
com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?
“Não; Deus não o
permitiria.”
552. Que se deve pensar
da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?
“Algumas pessoas dispõem de
grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus
próprios Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros
Espíritos maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de
criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos que
citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal
compreendidos.”
553. Que efeito podem
produzir as fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendem dispor
do concurso dos Espíritos?
“O efeito de torná-las
ridículas, se procedem de boa-fé. No caso contrário, são tratantes que merecem
castigo. Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum
sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos,
porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.”
a) - Mas, não é exato que
alguns Espíritos têm ditado, eles próprios, fórmulas cabalísticas?
“Efetivamente, Espíritos há
que indicam sinais, palavras estranhas, ou prescrevem a prática de atos, por meio
dos quais se fazem os chamados conjuros. Mas, ficai certos de que são Espíritos que de vós
outros escarnecem e zombam da vossa credulidade.”
554. Não pode aquele que,
com ou sem razão, confia no que chama a virtude de um talismã, atrair um
Espírito, por efeito mesmo dessa confiança, visto que, então, o que atua é o pensamento, não
passando o talismã de um sinal que apenas lhe auxilia a concentração?
“É verdade; mas, da pureza
da intenção e da elevação dos sentimentos depende a natureza do Espírito que é atraído. Ora, muito
raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de
colimar um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa crença
denuncia uma inferioridade e uma fraqueza de idéias que favorecem a ação dos
Espíritos imperfeitos e escarninhos.”
555. Que sentido se deve
dar ao qualificativo de feiticeiro?
“Aqueles a quem chamais
feiticeiros são pessoas que, quando de boa-fé, gozam de certas faculdades, como
sejam a força magnética ou a dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente
incompreensíveis, são tidas por dotadas de um poder sobrenatural. Os vossos sábios não têm
passado muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”
O Espiritismo e o magnetismo
nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância
teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela
imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única,
mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor
preservativo contra as idéias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é
impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice.
556. Têm algumas pessoas,
verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contacto?
“A força magnética pode
chegar até aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente
desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre,
porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito
entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais natural.
Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que
exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.”
Bênçãos e maldições
557. Podem a bênção e a
maldição atrair o bem e o mal para aquele sobre quem são lançados?
“Deus não escuta a maldição
injusta e culpado perante ele se torna o que a profere. Como temos os dois gênios
opostos, o bem e o mal, pode a maldição exercer momentaneamente influência,
mesmo sobre a matéria. Tal influência, porém, só se verifica por vontade de Deus como
aumento de prova para aquele que é dela objeto. Demais, o que é comum é serem amaldiçoados
os maus e abençoados os bons. Jamais a bênção e a maldição podem desviar da
senda da justiça a Providência, que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção
não acoberta senão aquele que a merece.”
CAPÍTULO X
DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS
558. Alguma outra coisa
incumbe aos Espíritos fazer, que não seja melhorarem-se pessoalmente?
“Concorrem para a harmonia
do Universo, executando as vontades de Deus, cujos ministros eles são. A vida
espírita é uma ocupação contínua, mas que nada tem de penosa, como a vida na Terra, porque
não há a fadiga corporal, nem as angústias das necessidades.”
559. Também desempenham
função útil no Universo os Espíritos inferiores e imperfeitos?
“Todos têm deveres a
cumprir. Para a construção de um edifício, não concorre tanto o último dos serventes de
pedreiro, como o arquiteto?” (540)
560. Tem atribuições
especiais cada Espírito?
“Todos temos que habitar em
toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas, presidindo
sucessivamente ao que se efetua em todos os pontos do Universo. Mas, como diz o Eclesiastes, há
tempo para tudo. Assim, tal Espírito cumpre hoje neste mundo o seu destino, tal outro
cumprirá ou já cumpriu o seu, em época diversa, na terra, na água, no ar, etc.”
561. São permanentes para
cada um e estão nas atribuições exclusivas de certas classes as funções que os
Espíritos desempenham na ordem das coisas?
“Todos têm que percorrer os
diferentes graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não
poderia ter dado a uns a ciência
sem trabalho, destinando outros a só a adquirirem com esforço.”
É o que sucede entre os
homens, onde ninguém chega ao supremo grau de perfeição numa arte qualquer, sem que
tenha adquirido os conhecimentos necessários, praticando os rudimentos
dessa arte.